Não curto negro, não curto gordo, pintosa que fala miando, peludos, depilados, galera que não se cuida, baixinhos… Pelamor, héin! Necão odara todo mundo curte, néam?! Será que a gente não perdeu a mão no “carrinho de compras” da internet?
Pode ser no Grindr, no Scruff, no Manhunt ou no Disponível. Pode ser até no chat do Uol. Todos nós já nos deparamos com o clássico “desculpa, mas não curto”, geralmente seguido de “pintosa, negro e gordo”. É lógico que todo mundo tem direito às suas preferências, e certamente algumas hão de ser genuínas, mas o ser humano é um animal social, cuja personalidade se constrói pelo meio. Assim sendo, quando notamos que as características mais impopulares são justamente aquelas menosprezadas por um ideal de estética masculina, não cabe investigar?
A internet é mesmo uma coisa maravilhosa, e cada vez mais faz parte da nossa vida. Ela nos transforma, facilita contatos, possibilita a troca de ideias… e também denuncia nossas neuroses! Exatamente por ser um campo muito vasto, com a proteção dos monitores do computador que acabam nos permitindo qualquer opinião, qualquer tara, qualquer preconceito, e com a nossa cultura capitalista, auto-indulgente, fica fácil nos preocuparmos apenas com a satisfação dos nossos desejos. É a terra do “venha a nós”!
Dessa forma, as perguntas nos formulários de cadastro acabam se voltando contra a gente, virando um checklist do que podemos ou não ser ou parecer. Acabamos esquecendo que cada perfil, por mais que seja um anúncio, é de uma pessoa também, e que pessoas são muito mais complexas do que um frasco de perfume. Sim, o cara pode ser baixinho ou efeminado, e para você essas coisas podem ser defeitos, mas ele também pode ser super inteligente, com bom papo e excelente na cama. E aí, quem perde? Um cara legal que não se envolveu com um babaca ou um babaca que deixou passar alguém incrível por ficar de mimimi? E se, de repente, o “babaca” se permitisse conhecer a pessoa melhor antes de achar defeito em detalhes, e tivesse uma grata surpresa? Você nunca pegou aquele carinha mais ou menos na boate, 4 da manhã, e terminou no motel tendo a transa da sua vida? Quantos namoros não começaram assim? Não seria mais lógico baixarmos um pouco a guarda, e realmente tentarmos conhecer as pessoas ao invés de seguir reclamando, eternamente, que “gay não quer nada sério”, sem pensar no porquê?
E o que falei sobre “neca odara”, na introdução, também é um ponto importante. O cara quer escolher, apontar defeito, se fazer de gostoso… mas a maioria desses requisitos fundamentais cai por terra quando o gordo-preto-pintosa-baixinho tem a “carta coringa”: mais de 20cm de pau! Não dá, né?! As pessoas são surpreendentes justamente por terem mais conteúdo do que alto-ativo-moreno-pauzudo. Se abrirmos a cabeça e nos permitirmos um pouquinho de humanidade (e senso crítico, que ninguém é tão perfeito que possa recusar todo mundo), talvez possamos, enfim, encontrar AQUELA relação especial que buscamos, mesmo quando estamos pulando de uma foto de pau para outra, nos utilíssimos aplicativos da vida. Fora que nesse mercado, enquanto pensamos se um pau grande compensa voz fina ou se uma barriguinha pode ser desculpada, fatalmente encontraremos um cara tão perfeito, mas TÃO perfeito, que será capaz de dizer:
_É sério que você trata as pessoas assim?! Nada contra, mas não curto!
Permita-se. Seja livre. Seja fabuloso.
Olá, Mr. Danado! Queria dizer que achei maravilhoso seu texto. A maneira como relacionou suas ideias, com o que percebemos/encontramos (infelizmente) pelo mundo afora foi sensacional. Confesso que não cheguei até aqui procurando isso. No entanto, saio satisfeito, com uma sensação até mais estimulante que a gozada (claro que ainda vou me acabar nos seus vídeos hahahaha - mas as duas coisas se completam). Saber que tem gente assim, crítica, reflexiva, e mais do que isso: disposta a passar isso pra frente - é animador demais! Parabéns!!
ResponderExcluirObrigado lindão!
ResponderExcluir